20/11/2010

E a nossa parte?

Quarta feira fui ao cinema assistir Tropa de Elite 2 e saí da sessão com uma pergunta na cabeça: qual é a solução?

A polícia recebe mal, não tem treinamento e equipamentos/armas para trabalhar, se arrisca todos os dias pela população sem nenhum reconhecimento e aí se corrompe (nem todos os policiais, claro).

A população pobre vive em caixas de papelão e barracos com pouca estrutura, deixada à margem em morros, sem condições de higiene e saúde básicas, sem acesso à alimentação correta ou escolas de qualidade tendo crianças que crescem querendo coisas que não conseguem comprar e por isso roubam, matam e traficam (nem todos os pobres, é claro).

As classe média e alta se mudam para condomínios fechados, desviam suas rotas para o trabalho, viajam para o exterior, põe os filhos em escolas particulares e criticam duramente programas sociais do governo mas contribuem ocasionalmente com uma instituição de caridade e dizem que estão fazendo a sua parte e o problema da pobreza e violência no país é do governo (a maioria, infelizmente).

E aí? E antes que me chamem de hipócrita, afinal ainda faço parte da classe média (não sei bem por quanto tempo) digo que muitas vezes me enquadro nesta simplificada descrição que faço. É, muitas vezes critico o que não conheço ou fecho os olhos para problemsas que também são meus. Sim; por que todos os problemas do país são meus, seus, dos seus vizinhos, do seu chefe... O país é nosso, os governantes são pessoas daqui que nós mesmos elegemos, e por isso devem a nós obrigações como honestidade, decoro, lisura nos processos que conduzem. Se um deputado rouba e põe o dinheiro na cueca o dinheiro é  meu, seu, dos aposentados, dos assalariados. E o deputado pode ser seu vizinho, seu parente, um cara em quem você votou sem pesquisar (por que afinal é um saco votar, uma perda de tempo não é?)

Aí eu vou ao cinema e está lá, bem explicadinho, pra quem quiser ver, como funciona nossa máquina pública, o filme só falta te pegar pela gola da camisa e te sacudir e falar: acorda mané! E a gente vai, assiste, comenta por um tempo e depois o que? Ano que vem começa um novo governo; uma promessa de continuidade (e melhoria?); no reveillon fazemos promessas: quero emagrecer, preciso juntar dinheiro, vou voltar a estudar. Mas não conheço ninguém que diz: vou ser mais engajado, vou cobrar as promessas de campanha do meu deputado, vou procurar um trabalho social sério para ajudar, doar meu tempo, construir uma coisa nova.

Sim, doar dinheiro é muito bom, necessário. Mas doar o dinheiro e não saber para onde ele vai deixa nossa consciência limpa mas nem sempre resolve alguma coisa.

E aproveito para contar pra quem não sabe: faço trabalho voluntário sempre que posso; já atuei em favelas e conversei com moradores e depois que ouvi de uma criança de 11 anos, dentro de uma sala de aula, que ela queria ser bandido quando crescesse tive a certeza de que temos todos a obrigação de modificar os valores em que estamos mantendo nossa sociedade.

Temos que mudar a consciência do que é realmente importante: o ser e não o ter; só assim, conseguiremos explicar para uma criança de 11 anos que é melhor estudar e ser professor ganhando um salário de R$1.000,00 por mês que traficante "fazendo" R$ 1.000,00 por dia.